segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Os vagos sinais na estrada sinuosa

Na estrada sinuosa
vagos sinais emergiam efémeros

Na estrada sinuosa
o meu indicador servia
uma direcção ao acaso

Para quê tanta artéria de sacrifício
se tão gémea é a fortuna?

Não ousem bater à porta quando há eremitismo

Encho a caneca de café
parto para o limite da extremidade
o som
um abismo
um fechar de portas

Não batam, não toquem à campaínha.

Não estarei.

Porto de abrigo em trincheiras / medida oculta no mapa

Remeto-me às trincheiras
que o porto pouco me abriga
e numa briga
um interior - estilhaços.

Há um período de dor
após brechas em gasóleo.

As trincheiras fumegam friamente
a punhalada existêncial.

Há uma distância oculta
uma medida específica
retalhos de uma evasão
que não constava na cartografia.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Silenciamento de genes

Temparatura incerta
o sombreado intacto
ácido ascórbico não nos salva
não há progresso nas enzimas.

Um derrame súbito pelas narinas
uma certeza de catástrofe
um facho de luz ou chance.

Um silenciamento de genes
há longos meses premeditado.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Diário de bordo sobre uma onda estridente

Servia-me a mim mesmo de um vinho tenebroso. Uma vida passada em frente aos espelhos, talvez. Espelhos de quebranto marítimo, espuma intensa e vendavais estruturados. Servia mais vinho. E desmaiava em sequência. "Serve-te", a consciência. E eu bebia cada vez mais.
No plano grotesco eu não era uma multidão gótica. Eu não badalava o sino, as doze horas. Eu era apenas o que restava de um porão vazio. Um porão de pensamentos retratados apenas pelo frio dos mares. Arrastava-me, por fim, para conseguir prever a fúria de um arpão nas costas de uma baleia.
Já com algumas milhas, aquela onda estridente passava. Escrevia os seus gritos no diário de bordo: uma folha em branco para o esquecimento. Apenas podia escrever a eternidade. Apenas podia registar... "Vá lá, serve-te!", a consciência.
Milhas passadas a frio, aquela onda estridente voltava. Os seus gritos, meu deus, encarcerados nos meus ouvidos como se espumassem todas as maresias triturantes. E nesse ruído recalcitrante um paladar distinto a algas surgia nos confins da minha língua.
Por fim terra. E mesmo nesse sólido cortante eu escrevia a eternidade e o esquecimento. Bebia mais. Enchia-me de vinho tenebroso. No dia seguinte voltava ao mar.

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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Galáxias pretas. Expansão

Num mar de sondas as galáxias pretas expandiam-se à velocidade de um universo. Um bloco sem rosto pairava sobre elas, intermitente.
Observei-as durante algum tempo e percebi que já não nos amáva-mos. Observei-as mais, longamente, e percebi uma península materializada nas rectas espaciais.
O espaço não era a questão. Eu apenas captava, piscar a piscar de olhos, imagens sardónicas do nosso fim.
Armazenadas as memórias nas retinas, os hologramas quebraram arduamente as penínsulas. E dividiram prismas de território, num mar de sondas, em galáxias pretas.

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Dança contemporânea de flores


Serpente de Pedra zine nº1

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