sábado, 26 de março de 2022

Mandíbula de coral

Luvas descalças

um patamar de absolvição


Negras plumas invadem o espaço

a cartolina da abóbada celeste


Partiu ao longe uma caravela

murmúrios crassos

portas abertas ao declive nuclear


Surgiu pela maré um troço de

potência osciladora de neutrinos

modulações sintéticas em árvore

sobre grandes mandibulas de coral


matriz, igreja matriz de corpos

desfraldados pelo sedentário recife

cortam o que resta do compartimento das luvas

singela recta de vidas estraçalhadas

segunda-feira, 21 de março de 2022

Dominó certo, noites embebidas em formol

Traz-me o vinho

abre a garrafa

sou surdo mudo quando não

bebo o mundo e arredores


Traz-me o tinto aparece


No tilintar da garrafa

uma escrita apócrifa

taninos de horticultura

culturalmente submerso

traz-me o vinho


Lê-me poemas em voz alta

tem dó.

Banco de jardim

Rasguei os tempos na orla da Crimeia

jornais largados ao vento

escala em Berlim

supunhamos que se trata de espionagem


Arco e flecha certeiros

arco e ângulo

certa flecha

Estocolmo


Roga-me pragas, irmão

reza por mim e por ti


gaivotas depenadas e tripas

soberbas manifestações negras

Álveolo matinal descoberto na radiografia

Serpenteando por aqui

uma voz de fragmentos persas

atirador furtivo

luvas na mala do carro

turbo ligado nas horas vagas da madrugada


pináculo, ordem, menir

mira bruxuleante

alvo abatido

domingo, 20 de março de 2022

Chronos ou a suspensão

Flipar

rever os corpos

as mãos

as unhas

e sobre a madeira um pé

acto bruto de anatomia


Zangado com as cordas

que nuvens ofuscam a

drenagem dos vasos hormonais?

sobre a égide da filha

égide de pontas facultativas

um mar absorto em podridão


Além o múrmúrio tépido

alcança o grotesco filamento estético

Chama da descompressão

Tubérculo solto

uma viuva negra sobre o palato

alguidar curvo sobre rodas

um terrível sorriso abrutalhado


Armaram-se plasticinas decorativas

moveram-se rugas hediondas

no mijo satânico das pulgas

no ar temível da porta secreta


Há vidros estilhaçados

não sei quem sou


Há pregos horizontais

há curvas embelezadas

num serviço de forma opalina

campas fulgurosas no hiperespaço

sedimento de um perfil de facebook à deriva

A pedra no fio da navalha morta

Contra pedra

campo

limalha

restos mortais sobre

a campânula sinistra

entre fogos fátuos

contra pedra o jugo de aço

pedestal crocante


Acho que um dia

as trevas comem-me


Brilhos transformistas

casca azul sobre os olhos

que fazem um delito

constrõem-se poses

riachos profundos