quarta-feira, 4 de maio de 2016

A cidade por detrás da cidade


  Por detrás da cidade havia outra cidade e por vezes estas cidades intercalavam-se. Uma abraçava a outra e tudo o que continham fundia-se para dar lugar a uma nova invenção: A continuação da sequência aldeia-vila-cidade. Uma cidade terrivelmente extensa. Uma cidade dentro de uma cidade.
  As luzes dançavam de forma híbrida no céu coberto de noite. Os seus habitantes sabiam que era uma espécie de sinal. Sinal que as fusões - corpo com corpo, seres únicos hermafroditas - os tranformariam em aberrações temporárias. Mutações andantes com várias deformidades.
  Os fumos que povoavam os canais aquosos nas periferias do monstro cidade tornavam-se nevoeiro denso. Dois fumos dentro de dois fumos dando lugar a uma nova criação: Uma massa de nevoeiro irrespirável que impedia a descoberta do segredo das cidades.
  Ao longe as cidades intercaladas não se pronunciavam na paisagem. Depois voltavam a ser uma cidade por detrás de uma cidade. Os seus habitantes separavam-se. E uma náusea, como desmame de uma droga, permanecia durante dias.

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