terça-feira, 30 de abril de 2024

Do horror

Olá, malta. Lembrei-me da peripécia da minha mãe. Ehehe, a nossa relação é da mais salutar. Perco-me quando começa a desfiar as suas histórias, qual Vovó Viral. Quantas vezes conta a história do incubus... Estou eu na sala a ver um suspense no meu VCR (oh, eu fazia trinta por uma linha com aquele vídeo), quando ouço um brado abafado e melindroso. Pelos vistos o stand-by da televisão parecia-lhe um olho. No outro dia contou-me sobre o incubus: «No sonho estava à janela a ver o panorama. Neste somenos, deparo-me com um homem munido de guarda-chuva; às tantas, uma multidão de homens munidos de guarda-chuva. O primeiro homem saltou para o corrimão e empurrou-me para cima da cama. Foi então que eu vi o olho da televisão» Estava aterrorizada devido ao stand-by. Eu teria 18 anos de idade; ainda hoje ela conta essa história não sem um medo. Eu rio-me porque ainda hoje essa história soçobra de mistério... A mim, por exemplo, já me sucedeu estar com amigos em tendas, numa floresta para os arrabaldes de Braga, quando a floresta pareceu falar para mim. Que medonho, malta. De horrores. Era com certeza o vento... Mas acontece que estávamos já em vigília, não pude chamar os meus amigos. Eu estava diante de uma qualquer sombra e aquilo afunilou. No outro dia, cismei com os meus amigos que a floresta havia falado. Lembro-me que o Pedro, um amigo muito amoroso, não coibiu. Muito Blair Witch, não? E vocês? Têm histórias de melindre para contar? Deixem o vosso testemunho.


domingo, 28 de abril de 2024

Curtas numa noite nuclear

Num aglomerado estratégico
lã, cabelo
esmeralda, topázio
enquanto vias curtas metragens

As sombras dizimadas acercavam-se
dos teus pés
a teus pés
astutos
repletos de mágoas perecíveis

Cobriste o corpo com os lençóis
sem perceber que já dormias
em viril dramatização

Num sacrifício platónico
a génese de uma cena atómica

Bom dia pessoas

Já depois de acordar e tomar a ablução, cumprimentei a gataria que irrompeu sob os meus pés pelo corredor a eito. A julgar pelo carpir, aquilo era fome. Introduzi uma semente através da gaiola da rola, que debicou com temperamento. A manhã raiava. Já no snack-bar, deparei-me com uma jovem mulher com um bebé ao colo. Ria placidamente. De quando em vez levava a chávena aos lábios, tentando pôr cobro às mãos do bebé que afloravam. É que o bebé tentava alcançar a chávena com ambas as mãos, mas a mãe não permitia, degustando e sorrindo. «Isso não é para ti, é para mim» Apaixonei-me imediatamente. O seu rosto estava franzido ainda devido a uma noite acalorada. Sorria, debatia-se com as mãos rebeldes do bebé; aflorava o nariz candidamente. A empregada, no seu modo enfunado, também aflorava os seus beijos. 

sábado, 27 de abril de 2024

Goggly

Especial agradecimento a Eduardo Cardoso


Olá. É o vosso Goggly. Em tempos fui contribuidor em Serpente de Pedra. Todavia - e porque fui imprevidente -, deixei este nosso blogue. Vicissitudes. Simplesmente perdi o meu precioso tempo numa época que me causa dissabor apenas de o lembrar. Pois bem, voltei de cara lavada. Estou mais comunicativo, menos inconstante e vulnerável. Aliás, sou mais sóbrio nos meus apontamentos diários. 

Referi-me a vicissitudes; na realidade assim é. Daí o título desta mensagem - para que o meu nome não caia no esquecimento. E é por essa mesma razão que trouxe um artigo de então, que revi e coligi. Trata-se de Where You Lived And What You Lived For, redigido a uma Quarta-feira, 30 de abril de 2014. Faz lembrar a citação de Fiódor Dostoiévski em Noites Brancas. 

Eis portanto o referido artigo.

Hoje entrei na Sé de Braga. Estava um silêncio meditabundo de princípio de tarde, quando o sol atinge de chofre a franja do cabelo. O acólito tem uma presença perversa [...]; percorre as naves da catedral com ensejo insuflado. Um empertigado de merda, penso para os meus botões. Além disso tem os olhos rombos de tantas lágrimas e [noites mal dormidas]. Doente episcopal. Tudo isso é poema. E há nisso acordes medievais. E música por fundo. [...] E há um arco que vibra nas cinco cordas do quintão.

 

 

Uma década e um ano depois

Em Maio a Serpente de Pedra faz 11 anos. Nunca imaginei que chegasse tão longe. A ideia inicial era fazer deste blogue um espaço colaborativo onde entrasse de tudo um pouco. Mas acabou por se afunilar e é dedicado hoje muito à poesia.

Quero agradecer a todos os que têm acompanhado a Serpente ao longo deste tempo, aos visitantes esporádicos, aos que colaboraram e aos que possam a vir colaborar.

Vamos ver se dura mais 10 ou 11 anos. Estaremos cá para ver.

Cordial abraço.

domingo, 21 de abril de 2024

A fuga ou a génese de um eco cosmológico

Se num momento o tempo parasse
sabias que nos moldes
onde me encontro
haveria um espasmo
um big bang inebriante
planetas dispersos na face

E nesse espasmo um universo
nessa face oculta esferas rochosas
capa dura ad astra
capa mole celeste
abertura ao abismo