Naquele tempo ouvíamos o estalar das portas. Pétalas de madeira cobriam o chão de folhas brancas. Sabíamos de cor o número de degraus que levam ao tecto. E ficávamos ali, estatuetas do negrume, à espera dos estalos.
A casa era antiga. Tinha os seus segredos. Maquiavélicas texturas assombravam as paredes de onde se exaltavam escabrosas pinturas. A tinta retinha as dedadas que deixávamos ao ouvir as portas estalar. Os estalos eram como gritos em eco pelo intestino arquitectónico que derramava água pelo património. E todo o nosso pelo eriçava com a vibração do som. Essa percepção sensorial deixava em nós uma sensação prazerosa. Longa. Abstracta.
Quando finalmente tudo cessava, as nossas mãos de veludo sentiam subtilmente o ar. Ao tacto chegavam sombras. A diversão acabava. As portas fechavam-se.
Sem comentários:
Enviar um comentário