terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Uma orla insalubre

Oceano intransitável
uma orla insalubre
 
Desperto fixo
atentamente
lagoas opostas
e silos de radioactividade

Nos dentes geriátricos
a absolvição
uma agulha num palheiro de quinquilharias

Terminologia para um simplex. Invólocro convexo

Em tempos bebi
o suco das esferas
e espremi nébulas
de terror

Ao corte as saliências vitais
revolviam seguras os parâmetros
 
Um escafandro geométrico
uma cápsula ad vitam
e ao longe, gigantes de gás
que se dissolviam
em fulgurantes plumas

Fachada equidistante de uma nova arquitectura

Revesar incólume
sobre as palmeiras
e de frente um mato
silencioso

Palmeiras desviadas
uma palma aberta
outra fechada
sobre o quilombo arquitectónico
que veste de seda e geada

Prédios gastos
devoram pastos
vistos da fachada equidistante

Náutica de dois polos entremarés

Diante de mim
três velas içadas
e no navegar sobre térmitas
o barco embriaga-se
de sal
de volumes intermarés

De costa a costa
uma rebentação íngreme
desdobra o sol
onde múltiplas faces se vigiam
faces caleidoscópicas
de outras marés

Dinamite e lâmpadas
outrora fachos
guiam complacentes
os espectros
 
 

Mitologia chinesa: mutações

Que fortunas
que margens se mostram
no I-Ching?

Palíndromo a cada
centímetro quadrado
a cada metro cronometrado
a força do Tao

Evasão turquesa
labareda febril
Fuxi em vapores nefastos

Dos trigramas
fortunas que ostento
retiro virgulas e mutações

Sobre um planalto de astros, uma figura

Não posso ver
as estrelas
nem o que se esconde
no universo
não posso ver outros planetas

Há um fio-consciência
que me impele
a venda cai
e na revelação
obra fictícia do que posso ver